As duas sementes
- Jessica Ramos
- 27 de fev. de 2019
- 4 min de leitura
Já te contei sobre as árvores que cresceram juntas? Não?! Então deixa eu te contar...
Era uma vez duas sementes de uma mesma plantinha, que foram enterradas lado a lado pra crescerem e florescerem.
As duas sementinhas tinham exatamente o mesmo lugar de origem, o mesmo tamanho, a mesma aparência... Todos diziam que seriam lindas árvores gêmeas, e que jamais seria possível saber diferenciar uma da outra, porque elas seriam como uma só.
Eis que o tempo foi passando, e com toda chuva, sol e cuidados, as duas sementes foram germinando e crescendo...
Uma ficou bem alta, cheia de folhas verdes e frutos chamativos, com uma copa frondosa e um tronco longilíneo que chamava atenção de muito longe... Muitas pessoas vinham vê-la, tirar fotos com ela, abraçá-la.
A outra, por sua vez, cresceu bastante também, mas aparentemente não tinha nada de muito especial. Suas folhas eram normais, não havia nada de chamativo. Seu tronco era grosso, robusto, e, diferente da primeira, poucas pessoas davam atenção àquela planta, aparentemente tão comum e pouco agradável aos olhos.
Certa vez uma tempestade muito forte foi anunciada, e as duas árvores se puseram a conversar sobre o que poderia acontecer a elas. A mais bonita começou dizendo:
- Não tenho medo de nada! Sei que, por eu ser tão linda e agradável aos olhos, as pessoas que passam por aqui com certeza vão me proteger... Além do mais, tenho um tronco esguio, uma copa frondosa, dou frutos deliciosos... Com certeza serei muito bem cuidada enquanto a chuva não acabar, porque eu sei que precisam de mim.
A outra, que ouvia atentamente o que a sua companheira de quintal dizia, respondeu:
- Acho que você tem razão... Mas o que me deixa pensativa é saber que, se essa tempestade realmente chegar como foi anunciada, eu não sei se terei alguma chance de sobreviver... Eu preciso analisar isso com mais calma. Será que vou ser derrubada pela força do vento? Será que alguém vai me proteger? Eu espero que nada de ruim aconteça a nenhuma de nós, porque apesar de eu não ter tantos atributos, gostaria muito de poder continuar aqui sendo amiga dos pássaros, dos casais, de ver tantos sorrisos, o céu azul... O jeito é esperar pra ver.
Não muito tempo depois a tempestade chega. Ventos muito fortes, relâmpagos, raios e trovões... A chuva caía em pingos grossos, que criavam pequenas crateras quando tocavam a terra.
Num determinado momento todos os frutos da árvore mais bonita começaram a cair, e a copa da outra árvore os acomodava de forma incrível, como se soubesse exatamente que poderia ajudar a repassar tudo aquilo para alguém que não conseguisse alcançar a copa tão alta de sua companheira ao lado para saciar a sua fome.
O vento ficou mais intenso e, como num golpe de um machado afiado, enfraqueceu o tronco tão alto e delgado da admirada árvore... Ela então começa a tombar, e fica apoiada na sua amiga robusta.
- Não acredito nisso! - disse a árvore caída - Não posso acreditar que vou morrer aqui!
A outra árvore então responde:
- Não deixarei jamais isso acontecer! Eu não sou tão chamativa aos olhos, mas tenho raízes fortes... Enquanto eu estiver de pé, você também estará! Se você sofrer, eu sofrerei junto. Estivemos juntas por todo esse tempo, podemos vencer essa tormenta! Não desista, porque eu não vou!
E então a chuva, os ventos e os raios, depois de algumas horas, finalmente cessaram.
A cena que se via era impressionante, e muitos não conseguiam acreditar em seus olhos: a árvore tão linda e valorizada estava apoiada sobre a sua vizinha. Quase todas as suas folhas tinham caído, e os frutos estavam presos por entre as folhas e galhos da sua companheira. As suas raízes, não muito profundas, estavam quase todas para fora da terra, e a única parte que ficou ainda enterrada estava entrelaçada às raízes daquela a quem poucas pessoas davam atenção... Raízes essas que eram profundas, firmes, e que possibilitaram que as duas sobrevivessem.
Depois de algum tempo, já recuperadas de todo o sofrimento, as duas amigas árvores voltam a conversar sobre a vida:
- Se hoje estou viva, é graças a você! - disse aquela que quase não sobreviveu - Por que não me contou que era assim tão forte? Por que nunca reclamou de não receber atenção de quem sempre passou por aqui?
A segunda árvore então responde:
- Eu não sabia que conseguiria sobreviver... E também nunca achei que merecesse muita atenção. A questão é que quando vi você sendo derrubada pela força da tempestade, a única coisa que me veio em mente foi me apegar às minhas raízes, ao que me sustentou durante toda a vida... Eu não podia te deixar morrer, porque somos irmãs, semelhantes. Confesso que muitas vezes não entendia o motivo pelo qual eu nunca recebia um visitante que quisesse tirar fotos comigo, ou alguém que quisesse se pendurar em meus galhos... Mas tudo isso é muito pequeno perto da imensidão que existe nessa terra de onde tiro minhas forças. Somos uma, crescemos juntas, vivemos juntas, e eu jamais poderia agir diferente do que fiz.
As duas árvores, assim, compreenderam que não importa o quanto existam diferenças entre todos os seres, eles sempre podem agir com amor e empatia uns pelos outros, através da força vinda de suas raízes.
Será que nós mantemos firmes as nossas raízes, ou apenas nos importamos em tocar o céu e aparecermos bonitos diante de outras árvores como nós?
Que as suas raízes sejam sempre fortes, e que graças a isso você seja capaz de se desenvolver a cada dia mais!
Para assitir a um vídeo sobre empatia, clique aqui!

Jessica Ramos
Comments